quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Dólar anima agricultor e tira o sono da indústria

São Paulo (AE) - A disparada do dólar em relação ao real, que fechou ontem cotado a R$ 2,74, o maior valor em mais de 9 anos, mais que compensa a queda no mercado internacional dos preços em dólar dos bens exportados pelo País, a maior parte matérias primas. Isso melhora as expectativas para exportações a médio prazo, mas aumenta a pressão sobre a inflação em 2015. Entre dezembro de 2013 até ontem, a moeda americana se valorizou 11,3%, descontada a inflação, segundo os cálculos do economista Bruno Lavieri, da consultoria Tendências. De dezembro do ano passado até outubro deste ano, os preços dos produtos exportados em dólar caíram 7%. De acordo com as projeções do economista, até o final do ano, essas cotações terão recuado 8,4%.
DivulgaçãoAlém de acelerar a venda antecipada de soja, a alta do dólar melhorou os preços em reais do grão 
Além de acelerar a venda antecipada de soja, a alta do dólar melhorou os preços em reais do grão

“É uma diferença favorável ao dólar de quase três pontos porcentuais”, observa Lavieri. Segundo ele, esse diferencial melhora as expectativas para as exportações, mas não terá efeito nas vendas externas de imediato por dois motivos. Primeiro porque as exportações foram contratadas num período anterior à alta do câmbio. O segundo é que os exportadores normalmente fazem seguro (hedge) para se protegerem das oscilações do dólar.

O diretor de pesquisas da GO Associados, Fabio Silveira, endossa a avaliação de Lavieri. “O avanço do câmbio compensa a queda dos preços das commodities em dólar.” Ele ressalta que, em reais, nenhuma commodity agrícola teve queda importante nos últimos 30 dias, o que aumenta as preocupações sobre a inflação.

Quem está comemorando a disparada do câmbio são os produtores de soja, pois conseguiram recuperar parcialmente a perda provocada pela queda de preços em dólar. “Foi uma boa surpresa”, afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso, Ricardo Tomczyk. Ele conta que os 8,86 milhões de hectares do Estado destinados à soja já foram plantados e que não há possibilidade de ampliar a área. No entanto, o avanço do câmbio surtiu efeito nos custos e na venda antecipada do grão. Até setembro, a venda antecipada  correspondia a 11%, uma fatia bem inferior à registrada no mesmo período do ano passado (40%). Hoje, com a alta do dólar, esse porcentual já oscila entre 45% e 48%, o mesmo nível de dezembro do ano passado

Além de acelerar a venda antecipada de soja, a valorização do dólar ante o real melhorou os preços em reais do grão. “Com esse câmbio recuperamos parte da competitividade, mas não tudo, pois também temos custos em dólar.”

Eletrônicos
Enquanto os produtores de soja comemoram a alta do dólar, os fabricantes de eletrônicos, especialmente de TVs que importam 80% dos componentes usados nos aparelhos, estão preocupados. “Todas as empresas estão preocupadas especialmente com os pedidos de componentes para março, já que os itens importados para uso nos dois próximos meses estão comprados”, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne a indústria de eletrônicos.

O diretor de uma fabricante de TV que prefere o anonimato diz que a saída é protelar as encomendas de componentes importados na expectativa de que o câmbio recue. De toda forma, ele diz que pelos aumentos de custos registrados neste ano até agora, incluindo o câmbio, será necessário aumentar em 15% os preços das TVs em 2015. Difícil é saber se vai emplacar.

Indústria espera nível perto de R$ 3
DA FOLHAPRESS

BRASÍLIA, DF - A desvalorização do real frente ao dólar é vista com bons olhos pelos exportadores. Mas, na visão da CNI (Confederação Nacional da Indústria), para dar competitividade ao setor, o ideal é que o dólar fique ainda mais caro.
“As reformas necessárias vão levar ainda muitos anos. Então o que pode fazer com que tenhamos competitividade [no curto prazo]? Câmbio e juros. O dólar deveria estar hoje mais perto de R$ 3 do que de R$ 2,70”, afirmou Robson Andrade, presidente da CNI, ontem. Ele afirmou, contudo, que é preciso um câmbio estável.

Em 2014, a indústria deve fechar o ano com retração de 1,5%, enquanto a economia brasileira deve ficar estagnada, com alta de apenas 0,3%, estima a entidade. Com exportações em queda, o Brasil deve ter saldo comercial negativo de US$ 4,5 bilhões, o primeiro deficit em quatorze anos.

Para 2015, a previsão é de expansão de 1% no PIB industrial e na economia do país.